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Um balanço sobre a experiência em Lauro de Freitas?

Detalhes
Publicado: 02 Abril 2019

Conviver intensamente, por dois anos, com a escola pública de Lauro de Freitas foi uma experiência única.

São vinte e três creches e cinquenta e sete escolas de ensino fundamental dos anos iniciais e anos finais, com cerca de trinta mil estudantes. Pelo menos cinquenta por cento são crianças e adolescentes beneficiários do programa Bolsa-Família com estruturas familiares em que as mulheres exercem uma liderança inconteste. A  distribuição dessas de escolas cobre  territórios cujas redes de afeto e solidariedade entre a gente, são infinitamente maiores do que as notícias de violência com que a mídia busca retrata-los. Lembro que ao assumir a Secretaria de Educação tinha dois seguranças à minha disposição. Foram dispensados e nunca fizeram falta…

A gestão de sistemas de ensino não é fácil em lugar nenhum, mas é certo que é na periferia das grandes metrópoles que esse desafio aparece com mais intensidade, afinal as desigualdades educacionais nesses lugares ganham contornos abissais.

Como desenvolver projetos educacionais, em escala e com impactos positivos reais nesses lugares? Fui Secretário da SECADI/MEC:  sempre me chamou a atenção que dentre as áreas de políticas públicas inclusivas desenvolvidas por aquela Secretaria a questão das escolas na periferia das grandes cidades foi o desafio menos evidenciado. O bolsa-família organizou essa demanda e levou essas crianças e adolescentes para a escola mas não fomos capazes de desenvolver processos educacionais que efetivamente determinassem a permanência qualificada desses estudantes em sala de aula e, para além dela e de suas paredes, no ambiente de influência da escola, na relação com a comunidade, impactando nos currículos ocultos que também formam essas crianças e jovens.

Tenho muito a falar de Lauro. Farei isso sempre e sob várias abordagens. Tenho quase um diário sobre essa experiência, uma vez que fiz inúmeras anotações sobre ela. Prometo que escreverei um livro sobre essa experiência. Por ora quero agradecer aos educadores que compõem o núcleo central da SEMED, àqueles que estão nas escolas, aos estudantes e suas famílias, aos colegas de outras secretarias e à Prefeita Moema Gramacho.

A SEMED está em boas mãos. Vânia Galvão tem uma história de compromisso com educação à toda prova!

Como homenagem aos meus parceiros da SEMED que se dedicaram de forma intensa à educação de Lauro, em condições, na maioria das vezes,  desfavoráveis, deixo registado aqui aquelas ações que essas pessoas consideraram como as mais importantes na nossa caminhada. Não tenho dúvidas que essas ações representam sementes que podem frutificar em abundância. (Como sempre, ou quase sempre, esse relatório tem a mão invisível de Dinalva Melo).

ATIVIDADES MAIS SIGNIFICATIVAS NA EDUCAÇÃO DE LAURO DE FREITAS (2017, 2018, 2019)

Na busca pelo alcance das metas foram realizadas até março de 2019, as seguintes atividades:  

A) NO ÂMBITO DA INOVAÇÃO PEDAGÓGICA

APROVAÇÃO PELO CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE UMA NOVA MATRIZ CURRICULAR
DESENVOLVIMENTO DO PROJETO EDUCAÇÃO CONECTADA
REAVALIAÇÃO DA FORMA DE ATUAÇÃO DOS COLEGIADOS ESCOLARES COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO DEMOCRÁTICA
OFERTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA AUXILIARES DE CLASSE
OFERTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA DOCENTES DO 1º AO 3º ANO VISANDO A MELHORIA DO DESEMPENHO DOS ALUNOS EM ALFABETIZAÇÃO
USO DE LIVRO DIDÁTICO COM ALUNOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL PELA PRIMEIRA VEZ NO MUNICÍPIO
REORDENAMENTO DA OFERTA DE CLASSES MAIS HOMOGÊNEAS NAS UNIDADES ESCOLARES, TORNANDO-AS ESCOLAS MAIS ESPECIALIZADAS, BEM COMO EVITANDO O BULLING JÁ QUE AS ESCOLAS PASSAM A TER ALUNOS DE FAIXA ETÁRIA MAIS HOMOGÊNEAS
IMPLANTAÇÃO DE SETE ESCOLAS DE TEMPO INTEGRAL COM OFERTA DE ENSINO DE SETE HORAS DIÁRIAS E ATIVIDADES COMPLEMENTARES NAS ÁREAS DE ARTE (música, dança, artes plásticas), EDUCAÇÃO FÍSICA E LAZER
OFERTA DE DISCIPLINA DE INICIAÇÃO AO MUNDO DO TRABALHO PARA OS JOVENS ESTUDANTES DO 9º ANO BEM COMO OS ESTUDANTES DA EJA DIURNA INTRODUZINDO UMA ABORDAGEM DE EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO
DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA MAIS ALFABETIZAÇÃO E PACTO PARA MELHORIA DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS DOCENTES DA ALFABETIZAÇÃO EM PARCERIA COM O GOVERNO FEDERAL
IMPLANTAÇÃO DO PROGRAM MIL PARA MELHORIA DO IDEB MUNICIPAL
ELABORAÇÃO DO PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DO CENTRO DE APOIO PSICOPEDAGOGICO À EDUCAÇÃO INCLUSIVA
REALIZAÇÃO DE DUAS EDIÇÕES DA MOSTRA EDUCASETE DE CINEMA
ELABORAÇÃO DE PROJETO PILOTO PARA REALIZAÇÃO DE AVALIAÇÃO PROPRIA DE DESEMPENHO DOS ALUNOS COM BASE NA PROVA BRASIL
OFERTA DE ESCOLA ABERTA NO FINAL DE SEMANA EM PARCERIA COM OUTRAS SECRETARIAS DO MUNICIPIO
REALIZAÇÃO DOS DIÁLOGOS NA EDUCAÇÃO: DA ESCOLA QUE TEMOS À ESCOLA QUE QUEREMOS
REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES DE JUDÔ EM PARCERIA COM A CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE JUDÔ
REALIZAÇÃO DO PROJETO DA ESCOLA BRINCANTE NAS FÉRIAS ESCOLARES DE 2019 SUPERANDO O CONCEITO DE FORMAÇÃO APENAS NO ESPAÇO ESCOLAR
REALIZAÇÃO DA CARAVANA DE ARTES E ESPORTES – COM OFERTA DE DIVERSAS ATIVIDADES CULTURAIS E ESPORTIVAS EM PARCERIA COM O INSTITUTO MPUMALANGA.
REALIZAÇÃO DA UNIVERÃO QUE SE CONSTITUIU EM UMA EXPERIÊNCIA ACADÊMICO-CIENTÍFICA E LÚDICO-CULTURAL, PERMITINDO A ABORDAGEM DE DIFERENTES TEMAS EM ÁREAS DE CONHECIMENTO DE INTERESSE LOCAL E GLOBAL. OCORRERAM SEMINÁRIOS, PALESTRAS, RODAS DE CONVERSA, APRESENTAÇÕES CULTURAIS E MUSICAIS.
DESENVOLVIMENTO DO PROJETO JUSTIÇA, CIDADANIA E TRABALHO COM O ALUNOS DA EJA EM PARCERIA COM A AMATRA – ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS DA JUSTIÇA DO TRABALHO.
 B) GESTÃO DE PESSOAS

CAPACITAÇÃO DOS CUIDADORES DE CRIANÇAS COM DEFICIENCIA
REALIZAÇÃO DE ESTUDOS PARA AVALIAÇÃO DO PLANO DE CARGOS E SALARIOS DO DOCENTES
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O USO DO LIVRO DIDÁTICO
CRIAÇÃO DO FÓRUM DE GESTORES PARA UNIFICAR AÇÕES E CONCEPÇÕES GERENCIAIS DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO
 

C) GESTÃO ADMINISTRATIVA / DEMOCRÁTICA

IMPLANTAÇÃO DE MAIS UM MECANISMO DE GESTÃO DEMOCRÁTICA DAS ESCOLAS: ESCOLHA DOS DIRIGENTES POR MEIO DE CONSULTA PUBLICA
REALIZAÇÃO DE PROCESSO SELETIVO SIMPLIFICADO PARA CONTRATAR DOCENTES E AUXILIARES DE CLASSES SUPRINDO A REDE DE PROFISSIONAIS PARA O BOM DESEMPENHO DOS ALUNOS
PAGAMENTO DE VANTAGENS E CONCESSÃO DE LICENÇAS A PARTIR DO DEFERIMENTO DE PROCESSOS SEM SOLUÇÃO HÁ MAIS DE DEZ ANOS
REESTRUTURAÇÃO DAS DIRETRIZES DE ELABORAÇÃO DO REGIMENTO ESCOLAR UNIFICADO
CRIAÇÃO DO FÓRUM DE PAIS COMO MECANISMO DE GESTÃO DEMOCRÁTICA
REGULAMENTAÇÃO DO USO DO TRANSPORTE ESCOLAR POR MEIO DO DECRETO Nº 4.316 DE 31 DE AGOSTO DE 2018.
MELHORIA DA DINÂMICA DE REALIZAÇÃO DAS MATRICULAS, DESCENTRALIZANDO O PROCESSO E EVITANDO OS TUMULTOS E MA DISTRIBUIÇÃO DAS VAGAS
ELABORAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO DA SEMED 2017-2020
ELABORAÇÃO DO REGIMENTO INTERNO DA SEMED
FORMAÇÃO DE GESTORES PARA O EXERCÍCIO DA GESTÃO DEMOCRÁTICAS DAS ESCOLAS DE LAURO DE FREITAS
REALIZAÇÃO DE ESTUDOS PARA IMPLANTAÇÃO DA BASE COMUM CURRICULAR – BNCC
ELABORAÇÃO DE DIRETRIZES PEDAGÓGICAS PARA A REDE MUNICIPAL DE ENSINO
ELABORAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DE GESTÃO DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE LAURO DE FREITAS
REEDIÇÃO DO PROMUNI
MONITORAMENTO DO PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
ELABORAÇÃO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
REALIZAÇÃO DE JORNADAS PEDAGÓGICAS
AMPLIAÇÃO EM 20% DO NÚMERO DE ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
AUMENTO EM 30%DO NÚMERO DE VAGAS NA PRÉ-ESCOLA
AMPLIAÇÃO DO NÚMERO DE NUTRICIONISTAS PARA MELHOR ACOMPANHAR A QUALIDADE E A SEGURANÇA DA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR DOS ESTUDANTES DA REDE
 

 D) MELHORIA INFRAESTRUTURAL

IMPLANTAÇÃO DE UMA SALA DE RECURSOS PARA CEGOS
AMPLIAÇÃO DO NÚMERO DE SALAS MULTIFUNCIONAIS
AQUISIÇÃO DE FARDAMENTO PARA OS ESTUDANTES
AQUSIÇÃO DE MOBILIÁRIO PARAS AS ESCOLAS
MANUTENÇAO DA REDE FÍSICA DE 60 UNIDADES ESCOLARES
 

A BASE PARA A REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE LAURO DE FREITAS ESTÃO FUNDADAS NOS SEGUINTES COMPROMISSOS:

 

COMPROMISSOS DA EDUCAÇÃO PARA O QUADRIÊNIO 2017-2020
 

COMPROMISSO 1- Promover a modernização e a ampliação da infraestrutura física e tecnológica das unidades de ensino do município
COMPROMISSO 2- Ampliar a oferta de vagas na educação formal
COMPROMISSO 3 -Promover a qualificação e a formação continuada dos profissionais de educação;
COMPROMISSO 4 -Instituir um sistema de gestão e avaliação da rede pública e do sistema de ensino com participação social
COMPROMISSO 5- Prover a alimentação e o transporte escolar para a rede municipal de ensino
COMPROMISSO 6- Melhorar a qualidade do ensino na perspectiva de transformação de Lauro de Freitas em Cidade Educadora;
COMPROMISSO 7 -Implementar a política educacional de promoção da inclusão e da diversidade
COMPROMISSO 8- Reduzir o analfabetismo
 

METAS
Metas do Compromisso 1: (COMPROMISSO 1- Promover a modernização e a ampliação da infraestrutura física e tecnológica das unidades de ensino do município)

Fazer reparos em 57 unidades escolares
Ampliar em 30% o número de escolas com recursos tecnológicos
Dotar 100% das escolas com equipamentos básicos
Ampliar em 10% o número de salas multifuncionais
Captar recursos para equipar as 18 salas multifuncionais;
Construir uma creche para 100 crianças
Metas do Compromisso 2: (COMPROMISSO 2- Ampliar a oferta de vagas na educação formal)

Ampliar em 20% a oferta de educação formal (educação infantil e Educação de Jovens e adultos);
Implantar projeto de alfabetização para os alunos do 1º ciclo;
Oferecer educação em tempo integral em seis escolas;
 

Metas do compromisso 3: (COMPROMISSO 2 Promover a qualificação e a formação continuada dos profissionais de educação):

Qualificar 30% dos docentes que atuam com alunos com deficiências;
Implantar o Centro de Apoio Psicopedagógico da rede municipal para atender aos alunos deficientes no contra turno, contando com uma equipe multidisciplinar (psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogo, neurologista, educador físico, arteterapeuta, fisioterapeuta)
Ampliar em 30% o atendimento do Programa saúde do escolar
Conceber e implementar a Universidade Livre da Cidade Educadora
Estabelecer parcerias com IES para ofertar cursos de pós-graduação e extensão aos docentes e servidores da rede;
 

Metas do Compromisso 4 (COMPROMISSO 4- Instituir um sistema de gestão e avaliação da rede pública e do sistema de ensino com participação social):

Implantar projeto piloto de avaliação própria do desempenho dos alunos, envolvendo alunos do terceiro e nono ano;
Instituir o Fórum de Pais
Instituir o Fórum de gestores
Fortalecer os colegiados escolares
Fazer escolha dos gestores usando mecanismos democráticos
Metas do compromisso 5 (COMPROMISSO 5- Prover a alimentação e o transporte escolar para a rede municipal de ensino):

Construir uma proposta redefinindo a política de distribuição e confecção da merenda;
Melhorar as instalações da cantina central
Adquirir utensílios para equipar as cantinas das escolas
Adquirir 30% de produtos para a merenda oriundo da agricultura familiar
Normatizar o uso do transporte escolar
Metas do compromisso 6 (COMPROMISSO 6- Melhorar a qualidade do ensino na perspectiva de transformação de Lauro de Freitas em Cidade Educadora)

Reformular o currículo da rede
Estabelecer diretrizes para a elaboração do projeto político pedagógico das escolas
Implantar o núcleo de Educomunicação
Ativar os territórios educativos
Apoiar projetos de integração da escola com a comunidade
 

Metas do compromisso 7 (COMPROMISSO 7 –Implementar a política educacional de promoção da inclusão e da diversidade):

Implantar o observatório da diversidade
 

Metas do compromisso 8- (COMPROMISSO 8- Reduzir o analfabetismo)

Reduzir em 20% a taxa de analfabetismo no município.

Fim do Exílio: De volta ao Recôncavo

Detalhes
Publicado: 10 Março 2019

Após quatro anos de “autoexílio”, agora em abril retorno à UFRB e ao Recôncavo. No final de março de 2015 aceitei o convite do Ministro Renato Janine para liderar a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI/MEC) e me afastei da Reitoria da UFRB, após um longo Reitorado (https://www.youtube.com/watch?v=LFSEaCQHGms).

Ao decidir seguir aquela trilha me preparei para passar, ao menos, quatro anos fora da UFRB. Arbitrariamente considerei que esse era o tempo necessário para vivenciar outros Recôncavos e me distanciar da experiência tão intensa, rara e, muitas vezes, solitária, que foi participar de todas as etapas de concepção do projeto, coordenação da campanha da conquista e implantação da UFRB. Para permanecer quase nove anos nessa função, tive que me convencer profundamente sobre a minha missão naquele lugar. Os indicadores educacionais ainda exibidos pela Bahia nos impõem um constrangimento ético incontornável. Por isso, considerava, considero, que construir um processo qualificado de inclusão educacional da nossa população é, na contemporaneidade baiana, o mais revolucionário dos desafios públicos.

Nunca gostei da ideia retrô de que a melhor fase da nossa vida é aquela experiência que já aconteceu. Por mais rica que tenha sido a nossa vida é fundamental ter a expectativa de que uma vivência ainda mais rica está nos esperando em algum lugar do futuro. Por isso me causa incomodo me submeter à cômoda lógica de que a minha “validação social” se dará por algo cristalizado no passado – por maior que seja a magnificência que abarque essa referência. Isso talvez explique a vontade de me lançar para além do Recôncavo, ao mundo Reconvexo, após nove anos de Reitorado e treze anos imerso no processo de criação da UFRB e de recriação do Recôncavo. Sim, parece que esquecemos que a recriação do Recôncavo sempre esteve subliminarmente presente como objetivo estratégico em todas as ações desenvolvidas em torno da implantação da UFRB. “E o recôncavo, o recôncavo, o recôncavo?! Meu medo!”

Esse período pós-UFRB foi a oportunidade que eu precisava para entender melhor a educação brasileira. É certo que tive o privilégio de construir um rico itinerário formativo nessa área e a minha gratidão é imensa por todos que possibilitaram isso.

Passei por Brasília e no MEC pude acompanhar o final do período mais transformador da educação brasileira – tenho certeza que a história da educação brasileira terá os Governos Lula e Dilma como marco histórico. Após o Golpe de 2016 fui para a UFSB e lá pude ajudar o Reitor Naomar Monteiro de Almeida-Filho na sua luta por construir uma universidade efetivamente associada a educação básica e pude acompanhar de perto uma oposição irrazoável a esse processo. As forças conservadoras, à esquerda e à direita, são verdadeiramente impressionantes e multifacetada nesse velho Brasil.

A seguir fui conviver com a rica gente pobre de Lauro de Freitas e o sonho dessa gente em ter uma escola que ensine e proteja seus filhos. Não existe nada tão brasileiro quanto a vontade da conquista de uma escola pública que proteja e projete um futuro digno para os nossos filhos. Também, nada é tão brasileiro quanto aos instrumentos que as nossas elites constroem para boicotar a realização dessa conquista, enquanto garantem candidamente que acreditam profundamente que “só a educação nos salvará”.

A escola de Lauro, composta por famílias que em significativa parcela integram o sistema do Programa Bolsa-Família, é uma experiência impressionante e muito me ensinou. Em meio a tantos desafios foi profundamente educativo conviver com tantas professoras que conseguem se renovar continuamente e construir histórias profissionais dignas de todo nosso respeito. De lá pude perceber em outra perspectiva a distância abissal que a universidade está dessa realidade.

Planejei ajudar a nossa querida Prefeita Moema Gramacho por dois anos e tenho muito orgulho de ter cumprido esse período que assumi como uma missão revolucionária. Sempre brinquei com a Prefeita: “se Paulo Freire ficou dois anos na Secretaria de Educação de São Paulo, eu também posso ficar dois anos aqui em Lauro. ”

Agora volto para o Recôncavo. Bem sei que a UFRB que encontrarei difere daquela que eu entreguei há quatro anos. Para além das questões nacionais, aqueles que me sucederam possuem uma visão diferenciada sobre diversas dimensões que compõem o espectro da missão universitária, mas faz parte do amadurecimento aprender a conviver e respeitar essas legítimas diferenças democráticas. Terríveis são os desafios que o autoritarismo do cenário nacional projeta sobre todos nós!

Que fazer? Seguir em frente, reinventando a vida e impedindo que a indiferença e a ruindade triunfem. Ainda temos muitos olhos lúcidos. Cada dia me convenço que essa é a maior missão da educação, manter os nossos olhos lúcidos. Lembro de Saramago em “Ensaio sobre a cegueira”: “aproveitamos o acaso de haver aqui ainda uns olhos lúcidos… se um dia eles se apagarem, não quero nem pensar, então o fio que nos une a essa humanidade partir-se-á, será como se estivéssemos a afastar-nos uns dos outros no espaço, para sempre, e tão cegos eles como nós.”

Não, não quero nem pensar!, por isso quero tanto me dedicar, mais e mais, à educação, única forma de manter o fio que nos une a essa humanidade. E enquanto esse fio existir a barbárie que nos espreita não vencerá, nem no Recôncavo, nem no seu Reconvexo.

A derrota cultural da esquerda

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Publicado: 01 Janeiro 2019

Paulo Gabriel Soledade Nacif 

“Assumir o combate ao “Marxismo cultural” é uma estratégia interessante para a direita porque, esse caminho permite a seus autores evitar discursos racistas e ao mesmo tempo se fingem defensores da democracia.” Jérôme Jamin

A posse de Bolsonaro consagra a vitória de uma estratégia mundial da extrema-direita que podemos denominar de combate ao “Marxismo Cultural”, definida como principal alicerce desses setores na  Europa, nos Estados Unidos e na América Latina. Por aqui, enquanto a esquerda, no Poder, preocupava-se em dominar os mecanismos eleitorais e o Congresso Nacional, a onda conservadora, inspirada no combate ao marxismo cultural, tomava forma em concepções como a escola sem partido, combate à ideologia de gênero e o enfrentamento ao politicamente correto e era tratada como algo menor e exótico pelas principais lideranças políticas. Quando as perguntas mudaram continuamos com as mesmas respostas!

Em 2015 escrevi um texto chamando a atenção para a questão. Volto ao assunto porque me parece que ainda não entendemos o tamanho do nosso desafio. Bolsonaro já deixou claro que usará, até as últimas consequências, o combate ao Marxismo Cultural como distração e assim evitar que a sua agenda de retrocessos sociais e econômicos ganhe o destaque necessário na sociedade. Não sem motivos os titulares dos Ministérios da Educação, Meio Ambiente, Relações Exteriores e  da Mulher, Família e Direitos Humanos são conhecidos ideólogos e propagadores dessas ideias contra o globalismo, a mudança climática, a ideologia de gênero e assemelhados. Não importa se consideramos tudo isso sem sentido: grande parte dos eleitores que votou em Bolsonaro acredita na racionalidade desses discursos. Lembremos dos ensinamentos de W.I. Thomas: “se os homens definem situações como reais, elas se tornam reais em suas consequências”. Você, leitor, vivendo o Brasil atual, tem dúvidas dessa assertiva?

Parcelas mais à direita da sociedade e alas conservadoras das principais religiões cristãs do Brasil assumiram o combate ao que chamam de marxismo cultural como prioridade das suas ações. Essa tendência, importada da Europa e EUA, tem hoje forte influência na formação e na ação políticas desses setores conservadores e seu alcance, possivelmente, vem sendo subestimado pela sociedade em geral.

Como buscaremos demonstrar nesse pequeno ensaio é interessante notar que aceitar a trama de um combate a uma conspiração de esquerda se harmoniza em bases profundamente coerentes com a forma como o preconceito e a discriminação se organizam historicamente no Brasil – lugar em que o racismo e outras formas de segregação se estruturaram de maneira muitas vezes velada e que tem como estratégia da perpetuação, inclusive, refutar suas existências.

Para esses representantes da direita, a queda do Muro de Berlim e o fim do Bloco Soviético apenas deslocou o foco dos inimigos que antes se localizavam além das fronteiras dos blocos ideológicos internacionais. Nessa lógica, agora há uma multipolarização de inimigos internos ainda mais perigosos, que atuam sem tréguas no campo cultural, tendo como fundamento o que chamam de marxismo cultural – uma grande conspiração de esquerda cuja ação explicaria, segundo esses ideólogos conservadores, os avanços socioculturais da sociedade contemporânea, notadamente em dimensões como direitos trabalhistas e direitos sociais de minorias como negros, mulheres, indígenas, homossexuais, imigrantes e refugiados.

Os difusores da conspiração do marxismo cultural não medem esforços e em suas performances pseudoacadêmicas não possuem nenhuma preocupação metodológica: misturam, com desfaçatez, conceitos e autores, constroem sofismas e falsos silogismos.

Para esses ideólogos conservadores o principal objetivo da conspiração de esquerda inspirada pelo marxismo cultural é destruir a família patriarcal (e toda a cultura a ela subjacente). Nessa lógica o objetivo final do marxismo cultural é a subversão dos princípios e valores da cultura judaico-cristã, pilar do mundo ocidental, com vistas a criar as condições para a vitória final do comunismo.

Essa guerra contra o marxismo cultural busca subsídios em citações truncadas de escritos do próprio Marx e de pensadores Marxistas. Tentando estabelecer uma linha do tempo lógica sobre a existência dessa conspiração, buscam-se uma confusa âncora em pensadores de esquerda, como Antônio Gramsci (1891-1937) e de autores relacionados à Escola de Frankfurt, notadamente Herbert Marcuse  (1898-1979) e Erich Fromm (1900-1980).

Esse discurso tem sido repetido ad nauseam em igrejas, clubes, reuniões de associações e se multiplicam nas redes sociais. O combate a essa pretensa conspiração do marxismo cultural tem, por isso, grande capilaridade, ainda mais porque os setores mais liberais da sociedade ignora-o, subestimando o seu impacto na formação ideológica da população, tratando o assunto como exótico e extravagante e, por isso, sem importância.

Essa questão, presente no cenário político da maioria dos países, ganha, no caso brasileiro, ainda mais relevo, notadamente porque passou a ser uma ferramenta importante de combate à coalizão de centro-esquerda que permaneceu no Governo por treze anos.

Setores mais contemporâneos do campo conservador, associados por exemplo ao PSDB, DEM e PMDB, recuaram de seus posicionamentos históricos e, vislumbrando mais um caminho para o desgaste do Governo de centro-esquerda, passaram a apoiar discursos baseados no combate à conspiração do marxismo cultural. Ademais, nesse período houve um fortalecimento de líderes religiosos conservadores: Aproveitando o momento de crescimento econômico e distribuição de renda ímpar na história do Brasil, esses líderes buscaram, com algum sucesso, disputar a paternidade desse processo de inclusão, relacionando a melhoria de vida da população a uma ação divina por eles mediada.

A dinâmica social desse início do século XXI desafia os setores mais à direita a buscarem novos posicionamentos para expressar os seus preconceitos. A adoção do combate ao marxismo cultural permite estabelecer um contraponto a militantes negros, defensores de causas indígenas, feministas, homossexuais, comunidades tradicionais, multiculturalistas, educadores de direitos humanos, ambientalistas, imigrantes e refugiados, sem expressar diretamente preconceito e explicitar discriminação. Isso se encontra bem definido na assertiva do professor de ciência política Jérôme Jamin (Université de Liège): Assumir o combate ao “Marxismo cultural” é uma estratégia interessante para a direita porque, esse caminho permite a seus autores evitar discursos racistas e ao mesmo tempo se fingem defensores da democracia.

De um modo geral, a forma da esquerda lidar com esse assunto, fora e dentro do governo, sempre foi improvisada e errática. Poucos setores fazem um enfrentamento assertivo e buscam separar o respeito às crenças da necessidade do respeito à diversidade. O desafio maior é denunciar essa tentativa de construir uma nova face para expressão de preconceitos e discriminação e formas criativas de resistir aos avanços sociais ainda tão necessários ao nosso País.

A UFRB de Dona Canô

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Publicado: 26 Dezembro 2018

Paulo Gabriel Nacif

Depois de muitos anos de implantada, a UFRB é uma realidade e a história da luta pela sua constituição vai ficando para trás. Outro dia um intelectual fez questão de declarar que “a mobilização pela criação da UFRB pouco significado teve, na medida em que a expansão do ensino superior era algo anteriormente definido pelas estruturas de poder”. Prosseguindo, ele usou como prova de sua tese o Programa REUNI, que veio logo após a criação da universidade. Não estava presente no momento dessa declaração. Caso tivesse tido oportunidade, perguntaria a ele por que então a expansão do ensino superior federal na Bahia começou exatamente aqui. Por que começou aqui no Recôncavo e não em outras regiões com maior dinamismo econômico e maior importância política?

A Escola de Agronomia era um bom motivo? Um campus, com apenas um curso de graduação e um de mestrado, até poderia ser um bom motivo, mas não era suficiente para sensibilizar quem tomava decisões.

Não tenho dúvidas, a mobilização da comunidade foi o fator determinante para que, registre-se, contra um prognóstico inicial presente no próprio Governo Federal, a expansão do ensino federal superior na Bahia começasse pelo Recôncavo. E, no percurso da UFRB, precisamos lembrar da participação de Dona Canô nessa história. A mobilização chegou a câmaras de vereadores, escolas, sindicatos, Clube de Diretores lojistas, deputados, senadores. Mobilizamos todo o Recôncavo.

Ainda em 2003, fui levado a Dona Canô, que logo disse: “uma universidade vai ser tão bom. Eu me preocupo tanto com os jovens, eles param de estudar, ficam sem emprego. Eu ainda vou falar com Lula”. E depois disso, ela participou ativamente da campanha, emprestando a sua imagem, sua assinatura, vestindo a camisa, dando declarações e, inclusive, falando com Lula. Em uma reunião em Brasília, após ser cobrado por grandes lideranças políticas sobre a criação da UFRB, o Presidente Lula disse com muito carinho: “essa universidade do Recôncavo é um pedido de Dona Canô!”

Em 2004, quando houve a reunião do Conselho Universitário da UFBA para aprovar o desmembramento da Escola de Agronomia para a criação da UFRB, lá estava Dona Canô no Salão Nobre da UFBA. Um Conselheiro, que fazia oposição ao mandato do Reitor Naomar, me chamou à parte e brincou: “Vocês estão indo muito rápido! Uma instituição como a UFBA não pode ficar sem um curso de Agronomia! Eu ia pedir vistas ao Processo, mas fique tranquilo, não vou fazer isso na frente de Dona Canô”.

Em 2006, quando o Presidente Lula veio lançar a UFRB, lá estava Dona Canô. Ela foi até Cachoeira, visitou as obras do Quarteirão Leite Alves com o Presidente, mas a família preferiu que ela não o acompanhasse até Cruz das Almas para não cansá-la demais.

E, por favor, não duvidem: Dona Canô, até o final, sempre teve a exata dimensão do que fazia. Em fevereiro deste ano, em visita a Santo Amaro, com uma delegação da UFRB, fomos convidados para tomar um suco com Dona Canô. Ela disse: “A universidade agora tem que vir para Santo Amaro. Uma universidade vai ser tão bom. Eu sempre me preocupo tanto com jovens, eles param de estudar, ficam sem emprego.” Exatamente o que tinha dito há nove anos .

Nessa última vez em que estive com ela, chegamos à casa, conduzidos por Rodrigo, um de seus filhos. Eu estava muito tímido e também preocupado em causar algum incômodo a uma senhora de 104 anos. Disse-lhe: “Benção, Dona Canô”. E ela disse, brincando, com um sorriso delicado e me deixando à vontade: “Meu filho eu abençoo tanta gente simples aqui em Santo Amaro, quanto mais um REI-TOR”.

Sua vida merece ser lembrada e celebrada!

Alguém já disse: Caetano Veloso e Maria Bethânia são artistas geniais! Mas a maior obra-prima deles não é um daqueles grandes poemas de Caetano ou uma interpretação magistral de Bethânia. A maior obra-prima deles é… Dona Canô. Realmente, revelar para o Brasil o encanto e a sabedoria singular de uma mulher comum do Recôncavo é uma atitude de gênios!

Um dia ela voltará numa “estrela colorida e brilhante, de uma estrela que virá numa velocidade estonteante” e, mais uma vez, “aquilo que nesse momento se revelará aos povos, surpreenderá a todos, não por ser exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto, quando terá sido o óbvio”.

(Texto publicado em 26 de dezembro de 2012)

ESCOLAS DE LAURO DÃO AULA PRÁTICA DE DEMOCRACIA

Detalhes
Publicado: 24 Novembro 2018

“Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no País a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública. ”
Anísio Teixeira.

Vinte e três de novembro foi um dia diferente para as escolas da rede municipal de Lauro de Freitas. Toda a comunidade educativa das nossas unidades escolares participou da consulta pública para a escolha de diretores e vice-diretores. Mães, pais, estudantes, professores e demais trabalhadores da educação fizeram filas e aguardaram com paciência cidadã para escolherem as suas candidatas e/ou candidatos.

O processo ocorreu de maneira ordeira, madura e sem sobressaltos em 39 (trinta e nove) das 46 (quarenta e seis) escolas aptas à consulta pelas regras democraticamente definidas, revelando o sucesso absoluto dessa iniciativa. Foi a culminância de um bonito processo que se prolongou por dias de campanhas e grandes expectativas e que terminou nesse belo ambiente colorido, festivo, inteligente, musical e de amplo debate de ideias que transformou as nossas escolas numa grande sala para uma aula magna da democracia.
A consulta pública em Lauro de Freitas, instituída em 2007, foi interrompida de maneira autoritária em 2015, deixando toda a comunidade Laurofreitense indignada. Felizmente, num exemplo para a Bahia e o Brasil, a democracia voltou às nossas escolas e, com coragem, rompemos com métodos autoritários de escolha das/dos dirigentes escolares.

Consideramos que através do processo democrático podemos fortalecer os vínculos de todos com a educação e assim envolve-los ainda mais na participação da tomada de decisão; queremos integrar toda a comunidade de forma mais profunda no dia-a-dia da escola, de modo que todos sintam-se comprometidos com o respeito aos trabalhadores da educação, com a proteção dos nossos estudantes e atuem com mais entusiasmo na luta para melhorar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem.

Como uma organização da sociedade, a escola reflete a cultura social, mas, é lógico, ela existe para também influenciar e, mais que isso, transformar essa sociedade. Ao reforçarmos a democracia e o diálogo na escola temos convicção de que influenciaremos positivamente toda a sociedade. Com isso a escola de Lauro de Freitas ensina ao mundo a necessidade do envolvimento de todos para a solução de problemas, reforça a cultura da paz e mostra que a negociação é o melhor caminho para a resolução de conflitos, fortalecendo o senso de democracia em todas as dimensões das nossas vidas.

  1. Às Professoras e professores de Lauro: Educadores do Brasil
  2. ESCOLA SEM MORDAÇA
  3. A Escola de Agronomia: Ascensão e queda de uma potência
  4. UFRB, treze anos: “E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo”

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